PERDIDO
*
Estava perdido, as sombras de incerteza não deixavam de pairar. O desespero e a angústia tomavam conta de si. Viu-se obrigado a entrar na taberna dos pescadores, naquela noite fora de Deus. Já tinha concorrido a todos os empregos mas as respostas foram todas iguais. Não tinha outra alternativa. Antes de sair ainda ouviu a sua mãe dizer:
- Não! Meu filho, não vás, o mar não é para ti.
Ele, porém, não deu ouvidos e alguma vez podia dar?
Meia hora depois, já se encontrava na taberna. Ao entrar avistou o velho pescador, conhecido por tio António. Dirigiu-se a ele como se este fosse a sua única varanda para se agarrar num prédio de vinte andares, sem ela caía e com a queda, toda a sua vida.
Tio António estava sentado. Vestia o seu fato de pescador e na cabeça usava a sua típica boina azul. Olhou para ele e desesperado pediu-lhe:
- Posso sentar-me?
- Claro meu rapaz! A minha mesa será sempre a tua.
- Tio António, eu…
- Não digas nada rapaz. Já sei! Não há empregos na aldeia.
Ouve o que eu te digo, não queiras a vida do mar.
- Porquê?
- Em breve verás!
Dizendo isto, levantou-se rapidamente, sem dar explicações.
O empregado da taberna, que tinha presenciado a conversa, aproximou-se.
- Deu para perceber. – Disse
- Não percebi nada!
- O mestre do barco do tio António não consegue governar a família e por isso quer ir para o mar mesmo debaixo deste temporal.
- Eles vão mesmo assim?
- Como te disse, vão!
Ao ouvir isto, reflectiu por uns momentos. Saiu da taberna e dirigiu-se à praia. Ao chegar viu um pescador sentado na areia, remendando a sua rede. Aproximou-se e indagou:
- O senhor podia dizer-me se o barco do tio António já se foi?
- Já sim rapaz! Foi o único!
Nada podia fazer. Entregava agora tudo nas mãos de Deus.
Atordoado, e já em casa, desperta ao som dos sinos da Igreja. A noite ficara para trás, as vozes vindas da rua soaram-lhe agitadas. Depressa mergulhou na azáfam da aldeia e não queria acusar o que a alma lhe dizia.
- Quem morreu?!
Uma mulher olhou-lhe, e hesitante disse-lhe:
- Foi o tio António e todos os que iam com ele!
Sentiu um punhal trespassar-lhe a alma.
- Tio António, posso agora compreender o quanto me quiseste bem!
Lágrimas insistentes brotaram-lhe dos olhos. Os sinos continuavam a tocar num som de dor e choro que acompanhavam o seu estado de alma.
Conto de escola feito por mim em 1985
*
Paulo Gonçalves
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