Naquela manhã tudo se tinha desmoronado. Entre rasgos e fendas de
giesta, ramos diversos e ervas daninhas, a sua alma estava no chão. As silvas
pareciam inócuas e as dores não sentidas eram afagadas pelo sofrimento.
Da casa dos seus pais, restavam apenas escombros, estes afagavam e
guardavam as duras batalhas perdidas.
Deambulando, caminhou sobre as ruínas e na sua cabeça ainda ouvia o
ensurdecedor barulho dos tiros e explosões. As lágrimas, teimosamente caiam e
vincavam o seu calor no rosto que aquela manhã gelara. Na tez, as rugas da
ansiedade, não lhe deixavam caminho para a esperança que se vestia de
desespero. No olhar a busca era incessante e percorria a agonia que se impunha.
- Mãe! Pai! - Gritou.
- Mãe! Pai! – Gritou ainda
com mais força.
A guerra fizera-se convidada, a fúria das armas e dos bombardeamentos
tudo destruíram. Restava-lhe a esperança de não ter perdido os seus pais.
…”Tinha ido buscar água ao rio, ao nascer do dia, conforme lhe mandara
a sua progenitora, quando, de repente e chegando ao local um barulho
ensurdecedor ecoou por toda a floresta. Uma explosão mesmo ao seu lado e um
enorme corrupio da armada deixou-lhe o pânico e o medo. A passarada,
estonteantemente esvoaçou. Um esquilo que por ali andava, em desespero, a sua
toca encontrou. A sua única saída era um fiel esconderijo onde outrora
costumava brincar.
Por fim o silêncio regressou e a medo foi cambaleando no intuito de
encontrar a sua casa.
Que restaria? O que se teria passado? Porquê aquela guerra?”…
De entre as ruínas, que teimosamente afastou, a sua vida perdida estava.
Entre duas mãos, um crucifixo e todas as suas raízes. Ainda mal vislumbrou uma
fotografia de um feliz dia de acção de graças, que manteve guardada na memória
e que permaneceu exposta na sala de jantar durante muitos anos. Testemunhos de
felicidades vividas ao lado dos seus queridos pais. Fragmentos doces de um
passado que se tinha rompido abruptamente.
Uma dor que lhe dilacerou a alma. Um grito forte e profundo. Estava
sozinha, como tantas outras crianças deste mundo. Vítimas de guerra, vítimas da
dor, vítimas do egoísmo.
- Mãe! Pai! Que faço agora?
- Vem, vem comigo. Ouviu esta frase que partia de uma voz celestial.
- Quem és tu?
- Se confiares em mim, nunca te abandonarei. Esta manhã é a tua
salvação.
Olhou de soslaio e conseguiu visualizar uma branca luz. Sentiu calor.
Sentiu conforto e deixou-se guiar.
- Já não sinto dor! Já não sinto dor!
Encontrara tudo o que tivera receio de perder. Talvez o valor das
coisas se fizesse sentir. Talvez fosse o sentimento real que viera à tona,
talvez não se tivesse apercebido da importância do amor. Talvez…Talvez…
A humanidade tem fome. Fome de amor! Fome de justiça! Fome de Paz! Fome
de Deus.
Quem te salvará? O amor? O homem, ou o espírito?
Paulo Gonçalves
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