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Era um cão, com uma corda comprida presa no pescoço que, supostamente, teria fugido do cativeiro onde se encontrava. Este ter-se-ia enrolado num arvoredo (Tudo se repetia, o animal estava dependente da prisão que a liberdade lhe tirava), Tremia; enroscava-se; deitava-se; levantava-se; e latia. Viu que era uma cadela, por ter em sua companhia, um filhote recém-nascido, que esta carinhosamente lambia, como se lhe desse alento, e segredasse, estar ali na sua frente a salvação, que até então lhes tinha fugido. Perante tal visão, olhou em seu redor, em busca de auxílio. Não havia ninguém...Sentiu um arrepio! Era arriscado, podia ataca-lo! E se não o fizesse?! Ambos iam sucumbir de fome e de frio. Esta soltou um chiar ofegante, e olhou-o, com olhar lânguido. Aqui o João caiu por terra, com os olhos rasos de água e o coração partido.
Desprendeu a cadela! Esta pegou o filhote com a boca, fugiu entre os arbustos como se fosse louca. Foi então que ele respirou de alívio!
Chegou a casa e contou o sucedido, com grande emoção. O pai disse-lhe que era um valente e que se sentia muito orgulhoso. A mãe disse-lhe que tinha praticado uma boa acção. As palavras proferidas pelos pais foram para ele uma afirmação. Este sentiu-se como se tivesse crescido. Ou melhor! Como se mil presentes tivesse recebido.
Decorridos alguns meses e num dia de Verão, foi dar uma volta perto do rio Na berma do caminho num deslize de terra a bicicleta caiu, e ambos foram sacudidos para o seu leito A corrente era forte e por ela foi arrastado. Quis Deus que se tenha cruzado com mato, na sua margem que o impediu de morrer afogado. Agarrou-se a tudo o que o podia, para se por a salvo. Encontrou Silveiras que lhe deixaram o corpo rasgado. Olhou o seu corpo ensanguentado e lembrou-se de Jesus Cristo. Rezou uma oração e pediu ajuda às suas Chagas com grande devoção.
O tempo urgia, e a noite estava eminente. Teve medo! Apenas se ouvia a corrente da água! Estava à mercê dos animais ferozes que na noite vagueavam com fome e sede. Os olhos queriam fechar-se. Mas não podia adormecer! Tinha de manter a fé! Teve um pressentimento, que algo de bom ia acontecer. De repente, sentiu uma presença e ouviu chiar. O que escutou não era estranho aos seus ouvidos. Era a cadela que à meses atrás, para sua sorte, tinha salvo da morte! Esta puxou-o pela roupa, e num grito de dor perdeu os sentidos.
Depois de tratado, contou aos pais, não estar recordado, por na sua memória se ter apagado, quem mais o ajudou. Tudo veio a culminar num mistério! Todos murmuraram, que foi a cadela e a mão de Deus que o salvou!
Mais tarde viu a cadela, abraçou-se a ela e chorou de gratidão.
- Companheira, estamos empatados! – Disse o João – A vida dá-nos lições nos momentos menos esperados!
Decidiu chamar-lhe Valente. A razão que encontrou para lhe dar este nome, não foi mero acaso. Mas, a mesma do pai, ao chamar-lhe valente. Ao saber que ele, a cadela tinha salvo.
O João perdeu a bicicleta, mas não foi em vão. Ganhou um novo amigo que testemunhou a sua fé naquelas horas de perigo. Esta sustentou-o de alento que lhe manteve o coração vivo. Doravante, juntos iriam, em romagem e alegria em busca de novas paisagens na encosta da Serra.
Raízes M/Peniche
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