A trovoada estava zangada. A revolta fazia-lhe descarregar as suas amarguras, muito embora não entendesse porque motivo se sentia assim naquela tarde ventosa.
A nuvem indignada questiona;
- Porque estás assim, trovoada? Tanto gemido, tanto grito, tanta revolta!?
- Estou arreliada! É por causa do vento! Nunca tem tempo para nada! Anda sempre numa correria desgraçada! Brrummm! Brrummm! Brrummm!
O vento não liga, de momento…
Justificando num lamento.
- Tenho pena, mas sou assim! Que fazer? Ai de mim, que me canso constantemente! Estou com pressa permanente. Renovo o ar e transporto a semente. Por isso estou contente! Não te preocupes, trovoada. És prenúncio de chuva, que dá vida ao que transporto! Bem te podes zangar! É bom ouvir os gritos, teus! Pois tens obra para realizar! Segundo a vontade de Deus!
A trovoada já mais aliviada, no entanto intrigada, não pode deixar de questionar tão dignificante avaliação.
- Quem és tu afinal para avaliares a vontade de Deus?!
Ao que o vento respondeu:
- Eu sou a sua força! Sou a sua energia! E de dentro de si vim. Pois das suas narinas nasci e abro o caminho para ti!
- Para mim?
- Sim para ti. A nuvem tua mãe, não pára de se deslocar, por mim empurrada, alimentando-se no mar e juntamente com o sol energia vai buscar. A água de si jorra, aos campos indo parar, germinando as sementes que tive que transportar. Os teus gritos descarregam energia acumulada, prevendo grande banquete para a terra, reservada. Todos os seres se alimentam, mediante obra divina. Sejam dignos de o entenderem e respeitarem a lei da vida.
A trovoada estava estupefacta com tamanha sabedoria, acabara de perceber o que antes não entendia e sentindo-se orgulhosa de seu importante papel, agradeceu ao vento, seu amigo fiel.
A nuvem comovida desatou a chorar, regando assim os campos, que segundo vontade de Deus, na Primavera, de vida, irão brotar.
Paulo Gonçalves
Bello
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